Espacios. Vol. 34 (10) 2013. Pg. 5 2x1f22 |
O modelo governana porturia revisitado: Uma contribuio para o processo de reforma porturia 1w2a2nThe port governance model revisited: A contribution to the port reform process 2g1q3oGuilherme Bergmann Borges VIEIRA 1, Francisco Jos KLIEMANN NETO 2 y Arturo MONFORT Mulinas 3 Recibido: 20-07-2013 - Aprobado: 02-10-2013 |
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RESUMO: |
ABSTRACT: |
1. Introduo l5e69Como conseqncia do processo de globalizao, as relaes comerciais internacionais tm se intensificado, aumentando em um ritmo superior ao do crescimento econmico mundial (OMC, 2010). De 1950 a 2009, segundo a OMC (2010), o crescimento do comrcio foi, em mdia, 1,7 vezes superior ao crescimento econmico mundial, havendo um pice nos anos noventa e um arrefecimento do mesmo na ltima dcada, devido a uma taxa de crescimento das exportaes (3,2%) inferior mdia do perodo (5,8%). Esse crescimento do intercmbio comercial aumenta a importncia dos portos como elos de conexo da rede logstica mundial, uma vez que parte significativa das atividades de Distribuio Fsica Internacional (DFI) est diretamente relacionada com os portos, tanto de embarque como de destino, afetando os fluxos logsticos. Tais fluxos podem ser classificados como fsicos, financeiros e de informao (Beamon, 1998) e influenciam a competitividade dos setores exportadores e importadores que se utilizam dos portos, influenciando tanto o custo dos produtos como o nvel de servio - velocidade e confiabilidade com que um item pedido torna-se disponvel aos clientes (Heskett, 1994). Nesse contexto, a qualidade com que os fluxos so gerenciados nos portos e os custos decorrentes de tais fluxos dependem do grau de coordenao existente entre os atores da cadeia logstico-porturia e nesse ponto que entra a governana, conceito que tem relao com as prticas de coordenao de atividades atravs de redes (Hirst, 2000). Diante desse cenrio, o presente artigo tem como objetivo propor um modelo conceitual que apoie a anlise da governana em cadeias logstico-porturias, discutindo sua operacionalizao em um processo de reforma porturia. Entre os benefcios da governana em cadeias logstico-porturias que justificam a importncia do modelo conceitual proposto, podem-se citar o alinhamento entre os diferentes atores dessa cadeia e o aumento da eficcia, da eficincia e da insero competitiva dos portos nas redes globais de transporte martimo. Isso est associado a uma srie de fatores, tais como: i) melhora da qualidade dos servios prestados aos usurios; ii) aumento da eficincia dos fluxos fsicos, com a reduo dos dwell times dos navios e das cargas; iii) aumento da eficincia dos fluxos informacionais, com a simplificao de procedimentos istrativos e a reduo do tempo de execuo dos mesmos; e iv) melhora da consistncia, confiabilidade, rastreabilidade e disponibilidade das informaes trocadas entre os diferentes atores, apoiando o processo de tomada de decises e o planejamento de novas exigncias. Em que pese a importncia do tema, so encontrados na literatura poucos estudos sobre governana porturia. E os estudos contemplando modelos de governana porturia, especialmente modelos que busquem relacionar, ainda que de forma incipiente, governana e performance dentro de um processo de reforma porturia, so ainda mais escassos. Esses fatores justificam a importncia do presente estudo. 2. Governana porturia 386042O conceito de governana conta com uma srie de acepes, podendo ser considerado um padro de comportamento do estado ou de empresas (governana corporativa) ou a coordenao das transaes entre empresas pertencentes a uma aglomerao empresarial. Alinhado com esse ltimo entendimento, Hirst (2000) afirma que o conceito de governana tem relao com as prticas de coordenao de atividades atravs de redes e Arbage (2004) complementa que, na maioria das vezes, a literatura no diferencia claramente os conceitos de governana e coordenao. No caso porturio, pode-se diferenciar os conceitos de ‘governana da autoridade porturia’ e ‘governana porturia’, estando o primeiro relacionado a questes de governana corporativa e o segundo governana do porto como aglomerao empresarial (De Langen, 2006), referindo-se s relaes existentes entre os atores da cadeia logstico-porturia e aos mecanismos de coordenao usados nessa aglomerao (De Langen, 2004). O conceito de governana repousa na ideia de que a eficincia no emerge espontaneamente, sendo necessrio um ‘modelo de governana’ para favorecer a referida eficincia, mediante a coordenao dos atores e das atividades logstico-porturias. Segundo Geiger (2009), um modelo de governana deve responder a trs questes bsicas: i) Quem governa? ii) Como governa? e iii) O que governa? A resposta a essas questes so, respectivamente: i) a estrutura de governana; ii) as aes de governana; e iii) os elementos de governana. A estrutura de governana refere-se ao arcabouo institucional e normativo existente na aglomerao empresarial; as aes de governana so os mecanismos indutores de coordenao e os elementos de governana so os atores pertencentes aglomerao e as transaes realizadas entre tais atores, as quais geram os fluxos logstico-porturios (fsicos, financeiros e informacionais). Alm das questes propostas por Geiger (2009), pode ser estabelecida uma pergunta anterior (Para que governa?) a qual se refere aos resultados da governana, associados referida eficincia da aglomerao empresarial, neste caso, da cadeia logstico-porturia. O objetivo final da governana porturia promover a performance da cadeia logstico-porturia mediante um determinado modelo de governana. Para tanto, necessrio compreender tanto a lgica de funcionamento do modelo adotado quanto sua forma de operacionalizao em um processo de reforma porturia. 3. Modelos de governana porturia 6o6v2rSegundo Lee (1973), um modelo uma representao simplificada da realidade que apresenta as caractersticas mais importantes de uma situao concreta. Um modelo de governana porturia pode ser considerado a partir de duas perspectivas distintas: i) como uma representao da forma de funcionamento da governana em determinado porto; e ii) como uma estrutura de referncia para a anlise da governana em determinado porto e para a implementao de processos de reforma porturia. Portanto, idealmente, um modelo de governana porturia deveria atender a esses dois aspectos, explicando o funcionamento da governana em determinado porto e permitindo sua anlise, de modo a orientar o referido processo de reforma. So encontrados na literatura poucos modelos de governana porturia, destacando-se o modelo denominado Matching Framework, desenvolvido originalmente por Baltazar e Brooks (2006) e sendo aprofundado em estudos posteriores por Brooks e Cullinane (2006a) e Brooks e Pallis (2008). Alm desses estudos, cabe mencionar os modelos de Brooks e Cullinane (2006b) e de Verhoeven (2010). O primeiro, denominado Modular Port Governance Model, trata-se de uma contribuio para a classificao de portos com o objetivo de identificar as estruturas de governana mais usuais, dada a grande diversidade de tipos de portos existente. J o segundo, denominado Port Authority Renaissance, tem como objetivo estabelecer uma estrutura conceitual para entender as funes porturias tradicionais e identificar as novas funes das Autoridades Porturias, decorrentes de novos desafios ambientais. Portanto, esses modelos tm como foco principal a estrutura de governana e as funes porturias decorrentes da mesma. Podem ser mencionados, ainda, alguns modelos de classificao porturia, comumente chamados de modelos de governana porturia e bastante difundidos na literatura da rea. Entre eles, destaca-se a taxonomia de portos proposta pelo Banco Mundial (World Bank, 2001). O modelo do Banco Mundial, assim como outros similares, tambm tm como foco a estrutura e as funes dos portos e, devido a sua simplicidade, no podem ser efetivamente considerados modelos de governana porturia. 3.1 Modelo de Baltazar e Brooks 5e4t5mBaltazar e Brooks (2006) desenvolveram uma aproximao terica aos conceitos de governana e devolution (devoluo) e propam um modelo conceitual de governana denominado matching framework, baseado na teoria da contingncia (Donaldson, 1996). No modelo, a incerteza ambiental vista como uma contingncia que deve ser gerenciada a partir de estruturas e de estratgias organizacionais adequadas. A estrutura organizacional engloba as relaes hierrquicas da organizao, tais como relacionamentos entre atores, procedimentos operacionais e sistemas de informao e de controle. J a estratgia definida pelo escopo de produto-mercado (em quais mercados e com quais produtos/servios o porto ir competir) e pela nfase competitiva (liderana em custo, diferenciao ou ambas). Segundo Cullinane e Song (2002), entende-se por devoluo a transferncia de responsabilidades de uma autoridade estatal ao setor privado, seja atravs de venda, concesso ou mediante o desenvolvimento de um sistema com responsabilidades compartilhadas. Segundo Baltazar e Brooks (2006), a devoluo de portos busca: i) garantir benefcios de uma gesto orientada por preceitos empresariais; ii) assegurar investimentos a portos perifricos; iii) gerar um melhor uso dos recursos; e iv) separar questes de regulao e de operao porturia. Resumidamente, os programas de devoluo porturia so parte de uma tentativa dos governos de aplicar novos conceitos de gesto pblica ao setor de transporte, fazendo com que as operaes porturias sejam geridas com base em princpios empresariais, oriundos do setor privado. Embora programas de reforma porturia tenham sido amplamente implementados nas ltimas duas dcadas, h uma srie de questionamentos a respeito da melhoria do desempenho porturio aps a implementao de tais programas (Baird e Valentine, 2006; Brooks, 2006). Isso se deve, segundo Baltazar e Brooks (2006), entre outros aspectos, ao fato de que tais processos geralmente esto associados ao entendimento de que existe uma melhor forma (the one best way) de implement-los. Contrariamente a esse entendimento, os autores sugerem a aplicao da teoria da contingncia, argumentando que no existe uma nica forma vlida, mas sim uma forma mais adequada a cada tipo de situao. Nesse sentido, os autores propem um modelo para a governana porturia (matching framework), o qual est baseado em trs elementos: i) o ambiente operacional em que est inserido o porto, o qual pode ter diferentes nveis de incerteza, conforme seu grau de complexidade e dinamismo; ii) a estratgia estabelecida, definida pelo escopo de produto-mercado e pela nfase competitiva; e iii) a estrutura, considerando o grau de centralizao na tomada de decises e de padronizao nos processos operacionais. Esses trs elementos, em seu conjunto, definem o desempenho porturio. A Figura 1 apresenta graficamente o modelo proposto por Baltazar e Brooks (2006). A aplicao do modelo se d mediante a verificao do grau de ajuste (fit) existente entre seus elementos (ambiente-estrutura; estratgia-estrutura e ambiente-estratgia). Para Lawrence e Lorsch (1967) apud Baltazar e Brooks (2006), organizaes menos formalizadas, mais descentralizadas e com membros mais alinhados do que a mdia do mercado tendem a lidar melhor com a incerteza. Por outro lado, segundo os autores, firmas que atuam em mercados de menor incerteza tendem a obter melhor desempenho quando adotam estruturas mais centralizadas, formalizadas e padronizadas. Trata-se de uma concluso similar de Burns e Stalker’s (1961) apud Baltazar e Brooks (2006), que argumentaram que estruturas mecanicistas se encaixam melhor com ambientes estveis, enquanto que estruturas orgnicas so mais adequadas a ambientes instveis. Quanto s estratgias, Miles e Snow (1978) classificaram-nas em estratgias prospectivas (focadas na inovao) e estratgias defensivas (focadas na eficincia). J Porter (1980) identificou duas estratgias potencialmente exitosas para gerar vantagem competitiva: liderana em custo e diferenciao. Segundo o autor, a liderana em custo pode ser obtida de diferentes maneiras (por exemplo, mediante maiores economias de escala, por meio de uma tecnologia superior dos concorrentes) e permite empresa trabalhar com preos mais baixos, obtendo uma participao de mercado que refora a posio de baixo custo. J a diferenciao consiste em obter um posicionamento nico em critrios competitivos valorizados pelos clientes. Essa ‘unicidade’ permite que a empresa trabalhe com ‘preos-prmio’, gerando o lucro necessrio para reforar sua posio de diferenciao. A partir dessas definies, no que se refere ao ajuste entre estratgia e estrutura, Baltazar e Brooks (2006) sugerem que estratgias prospectivas (Miles e Snow, 1978) ou de diferenciao (Porter, 1980) estariam mais ajustadas a estruturas orgnicas, enquanto que estratgias defensivas, orientadas busca da eficincia (Miles e Snow, 1978) ou de liderana em custos (Porter, 1980), ajustar-se-iam melhor a estruturas mecanicistas. De qualquer modo, no se trata de uma escolha dicotmica entre um ou outro tipo de estrutura, mais sim de uma orientao maior a determinado tipo de estrutura. Quanto relao entre ambiente e estratgia, segundo Baltazar e Brooks (2006), ambientes com menor grau de incerteza, isto , com menor complexidade e dinamismo, facilitam a busca pela eficincia, permitindo a produo de grandes volumes de produtos (ou servios) bsicos, normalmente por meio de estruturas centralizadas e processos padronizados. Por outro lado, ambientes com maior incerteza sugerem a diferenciao por meio de produtos e servios desenvolvidos para clientes com necessidades nicas, o que implica estruturas menos centralizadas e processos menos padronizados. Segundo Baltazar e Brooks (2006), os indicadores de desempenho porturio devem medir a eficincia e a eficcia da configurao implementada (modelo de governana). O matching framework foi aplicado pelos autores na anlise dos portos canadenses, concluindo-se que os mesmos se encontram em um perodo de transio entre um ambiente de baixa incerteza, com uma estratgia orientada para a eficincia ou defensiva e uma estrutura mecanicista para um ambiente mais complexo e dinmico, que exige aes de customizao e justificam uma estrutura mais descentralizada. Figura 1 - Modelo de governana porturia - Matching framework Cabe salientar que o modelo de Baltazar e Brooks (2006), embora til para a anlise da governana porturia, ainda no foi suficientemente aplicado de modo a validar os links entre seus elementos (ambiente-estrutura; estratgia-estrutura e ambiente-estratgia) e, especialmente, a relao entre modelo de governana e performance porturia. Alm disso, o modelo deixa lacunas no que se refere a sua forma de operacionalizao em um processo de reforma porturia. 3.2 Modelo de Brooks e Cullinane 2x2h5nBrooks e Cullinane (2006a) discutiram, a partir do Matching Framework de Baltazar e Brooks (2006), a relao entre a governana no nvel do governo e no nvel das firmas. O modelo proposto pelos autores considera os resultados da governana no nvel do governo como um elemento do ambiente de governana no nvel das firmas e os resultados no nvel das firmas como um componente para a anlise do ambiente de governana em nvel governamental (Figura 2). O modelo proposto por Brooks e Cullinane (2006a) no apresenta grandes mudanas em relao ao original, tratando-se basicamente de uma duplicao do mesmo. A partir dessa releitura do modelo original, os autores identificaram dois novos os a serem dados no estudo da governana e da performance porturia, os quais podem ser conduzidos simultaneamente e ajustados dinamicamente. O primeiro o trata-se do desenvolvimento de uma agenda de pesquisa para validar as relaes propostas pelo modelo no nvel do governo e no nvel das firmas (Figura 2). O segundo trata-se do desenvolvimento de indicadores para avaliar os outputs (performance porturia) em cada um dos nveis. Tal avaliao, segundo os autores, deve: i) contemplar aspectos internos (eficincia) e externos (eficcia) da performance porturia; ii) levar em considerao no s o porto em si, mas tambm o contexto da cadeia logstico-porturia em que ele est inserido; iii) ser til tanto ao governo como autoridade porturia e aos demais atores da cadeia; iv) ter um nmero de indicadores que permita sua efetiva utilizao no processo de tomada de deciso, evitando-se um nmero excessivo de medidas que gere o imobilismo ou um nmero muito reduzido que impea a anlise adequada da situao; e v) contemplar tanto medidas financeiras como no financeiras. Figura 2 - A relao entre firma e governo em um modelo de governana Percebe-se que o modelo de Brooks e Cullinane (2006b), embora possua maior amplitude que o primeiro, apresenta basicamente as mesmas lacunas, faltando uma validao de suas relaes internas (ambiente-estrutura; estratgia-estrutura e ambiente-estratgia) e externa (modelo de governana-performance), bem como um detalhamento de sua forma de aplicao em um processo de reforma porturia. 3.3 Modelo de Brooks e Pallis 6e17mTambm tendo como base os resultados de Baltazar e Brooks (2006), Brooks e Pallis (2008) reformularam o matching framework inicialmente proposto, desenvolvendo um maior detalhamento da avaliao do desempenho porturio (eficincia e eficcia) e do processo para a implantao do modelo de governana no contexto de um processo de reforma porturia. O modelo proposto por Brooks e Pallis (2008) apresentado na Figura 3. Figura 3 - Modelo de governana no contexto de um processo de reforma porturia Os autores tambm investigaram as formas como os portos medem sua performance e a relao entre o sistema de medio de desempenho e a governana porturia. Os resultados indicaram que a maior parte dos portos mede somente a eficincia porturia (no considerando a eficcia). Os autores, aps avaliarem a validade do modelo, no identificaram uma relao conclusiva entre governana e performance porturia, o que encontra eco na literatura. No entanto, Brooks e Cullinane (2006a) argumentam que a falta de resultados mais conclusivos tambm se deve ao fato de que a relao entre governana e performance porturia ainda no foi suficientemente estudada. De qualquer modo, segundo os autores, quando so implementados modelos de governana inconsistentes internamente, no se pode esperar performance porturia em um nvel timo. Da a importncia do modelo proposto por Baltazar e Brooks (2006) e aprimorado por Brooks e Pallis (2008). Em suma, todos esses resultados sugerem a necessidade de aprofundar o estudo da relao entre modelo de governana e performance porturia e de detalhar a forma de implementao de um novo modelo de governana em um contexto de reforma porturia. Desse modo, evidencia-se a oportunidade de desenvolver um novo modelo de governana porturia que reduza as lacunas deixadas pelos modelos existentes. 4. O modelo de governana revisitado 69201cComo mencionado anteriormente, um modelo de governana, segundo Geiger (2009), deve responder a trs questes bsicas: i) Quem governa? ii) Como governa? e iii) O que governa? A resposta a essas questes so, respectivamente: i) a estrutura de governana; ii) as aes de governana; e iii) os elementos de governana. Alm dessas questes, pode ser considerada uma pergunta anterior (Para que governa?) a qual se refere aos resultados da governana (Vieira et al., 2013). Tendo como base essas questes e considerando-se as diferentes taxonomias existentes para a classificao de portos, o conceito de cadeia logstico-porturia, o qual se apoia no entendimento dos portos como aglomerados empresariais, e os modelos concorrentes de governana porturia encontrados na literatura, foi elaborado por Vieira et al. (2013) um novo modelo conceitual de governana, o qual apresentado na Figura 4.
Figura 4 - Modelo de governana porturia O modelo proposto pelos autores apoia-se na seguinte lgica: os resultados de governana (para que governa) indicam a necessidade do estabelecimento de aes de governana (como governa), visando coordenao dos atores e melhoria das atividades logstico-porturias, que so os elementos de governana (o que governa), tudo isso condicionado pela estrutura de governana existente (quem governa). A Figura 5 apresenta a lgica de funcionamento do modelo proposto por Vieira et al. (2013), indicando as relaes existentes entre suas principais dimenses. Analisando-se a lgica de funcionamento do modelo pela tica dos clientes do porto (cargas e navios) e considerando-se, portanto, os portos como elos de conexo terra-mar, tem-se o seguinte: i) os armadores (companhias martimas de linha regular) definem os portos de escala em suas rotas de navegao em funo do potencial gerador de cargas e da eficincia de cada porto; ii) em funo das rotas existentes e da eficincia dos processos logstico-porturios, os usurios (exportadores, importadores e agentes de carga) escolhem os portos de embarque e desembarque a serem usados em suas operaes. A eficincia porturia um fator presente tanto na escolha dos armadores quanto dos demais usurios (exportadores, importadores ou agentes de carga) e est associada em certo grau ao modelo de governana porturia. Figura 5 - Lgica de funcionamento do modelo
Fonte: Vieira et al. (2013). Para a operacionalizao do modelo de Vieira et al. (2013) em um processo de reforma porturia, sugere-se que o mesmo seja utilizado tanto no diagnstico da situao encontrada (ambiente pr-reforma), como na definio da nova poltica porturia e no acompanhamento dos resultados obtidos aps a implementao de ajustes (ambiente ps-reforma), conforme apresentado na Figura 6. Figura 6 - Operacionalizao do modelo de governana em um processo de reforma porturia
Fonte: Elaborao prpria. Dito de modo mais detalhado, as questes a serem respondidas pelo modelo de governana porturia proposto por Vieira et al. (2013) - Quem governa? Como governa? O que governa? Para que governa? - que definem as quatro dimenses do modelo - estrutura, aes, elementos e resultados de governana - as quais so detalhadas em fatores, conforme apresentado na Figura 4, devem ser consideradas nas diversas fases de um processo de reforma porturia: antes, durante e aps a implementao de medidas de ajuste. Nesse sentido, tanto na avaliao do ambiente pr-reforma (fase 1) como na do ambiente ps-reforma (fase 3), sugere-se que as questes de governana contempladas pelo modelo de Vieira et al. (2013) sejam analisadas da seguinte forma: i) pela tica dos gestores do porto, mediante a realizao de entrevistas em profundidade ou grupos focais (dados primrios); ii) pela tica dos usurios, mediante a aplicao de questionrios (dados primrios); e iii) a partir de indicadores de desempenho previamente definidos (dados secundrios), sendo fundamental a identificao de indicadores que apresentem ntida relao com a governana porturia. A definio da nova poltica porturia (fase 2) buscar sanar os problemas identificados na fase 1, aproximando-se de uma situao desejada (ambiente ps-reforma) que ser posteriormente reavaliada (fase 3). Para a aplicao do modelo pela tica dos gestores, aspecto no abrangido pelo modelo original de Vieira et al. (2013), sugere-se a utilizao de um roteiro de questes para avaliar as diferentes dimenses do modelo de governana porturia e identificar os principais pontos crticos existentes. O Apndice A apresenta um modelo referencial de roteiro de questes que pode ser utilizado nesta etapa. J para a aplicao do modelo aos usurios (atores relevantes da cadeia logstico-porturia), Vieira et al. (2013) sugerem a utilizao de um instrumento de avaliao composto por 19 afirmativas a serem avaliadas mediante uma escala Likert de cinco ou sete pontos. Tais afirmativas esto associadas aos diferentes fatores que detalham os quatro componentes do modelo, conforme apresentado na Figura 7. Quanto avaliao do desempenho porturio, Brooks e Pallis (2008) a dividem em avaliao interna (eficincia) e externa (eficcia). A avaliao externa pode ser obtida a partir da aplicao do instrumento proposto no Apndice B (ou uma adaptao do mesmo) aos usurios do porto. J a avaliao interna (eficincia porturia) depende da implementao de um sistema de avaliao de desempenho no porto. Esse sistema de avaliao de desempenho deve considerar tanto a governana da autoridade porturia (governana corporativa) quanto a governana dos atores de comunidade porturia e dos fluxos associados (governana da cadeia logstico-porturia). Encontram-se na literatura muitos estudos sobre eficincia porturia, utilizando diferentes procedimentos metodolgicos e considerando diferentes inputs e outputs. Em parte significativa desses estudos utilizada a anlise envoltria de dados ou Data Envelopment Analysis (DEA), podendo-se citar as contribuies de Roll e Hayuth (1993), Tongzon (2001), Cullinane et al. (2005), Rios e Maada (2006), Souza Junior (2010), Bichou (2013), entre outros. O DEA permite a comparao de diferentes unidades de negcios ainda que os dados de input e output estejam em diferentes unidades de medida, uma vez que se trata de uma tcnica no paramtrica. Figura 7 – Dimenses, fatores e questes para avaliar o modelo de governana Uma questo crtica ao analisar a eficincia diz respeito definio dos inputs e outputs a serem considerados. Analisando-se apenas os outputs ou resultados de governana, dado o modelo proposto, importante identificar que medidas esto relacionadas com a governana porturia. Nesse sentido, deve-se levar em conta que alguns indicadores usuais na medio da performance porturia no apresentam relao direta com a governana, embora possam estar indiretamente relacionados com a mesma. Por exemplo, a movimentao de cargas em certo perodo de tempo (em unidades de contineres de vinte ps – TEUs - ou toneladas por ano) pode estar mais relacionada com questes de demanda - comrcio exterior da regio em que est inserido o porto - do que com a governana porturia. Em uma mesma linha, a produtividade no cais (em toneladas ou TEUs movimentados por hora), outro indicador muito utilizado, pode ser melhor explicada pelo nmero de gruas disponveis e sua capacidade operacional do que pelo modelo de governana. Por outro lado, h indicadores que dependem mais diretamente da governana porturia e, portanto, so elementos crticos na anlise dos resultados de governana. Como exemplo, podem-se citar os tempos de permanncia das cargas (ou contineres) nos terminais, tanto nas operaes de exportao como nas de importao, e os tempos de espera dos navios para atracao, comumente denominados dwell times das cargas/contineres e dos navios, respectivamente. Esses dwell times dependem de um conjunto de atividades executadas por uma srie de atores intervenientes que podem apresentar maior ou menor grau de coordenao (governana). Portanto, fundamental que, na anlise dos resultados de governana, juntamente com os indicadores financeiros e operacionais do porto tradicionalmente usados, seja dada nfase aos referidos dwell times. Alm disso, devem ser considerados os resultados da aplicao do modelo proposto aos gestores e aos usurios do porto. 5. Concluses 1555bOs portos tm fundamental importncia tanto para o comrcio exterior dos pases quanto para o desenvolvimento das regies em que esto inseridos. Portanto, a busca de uma maior eficincia e eficcia dos servios porturios deve ser uma preocupao constante no s dos gestores dos portos, mas tambm dos prprios governos. Um porto, analisado pelo conceito de cadeia produtiva, uma aglomerao de diferentes atores cuja atuao impacta diretamente na eficincia, no nvel de servio e nos custos porturios. Assim sendo, tais atores devem ser efetivamente coordenados ou governados para gerar uma melhor performance porturia. Essa coordenao depende do correto diagnstico dos diferentes componentes do modelo de governana porturia e dos ajustes estabelecidos em um processo de reforma com vistas a gerar um novo modelo que apoie a performance porturia. A compreenso e a operacionalizao de todos esses elementos so facilitadas a partir da releitura do modelo de governana porturia apresentada neste artigo. Dessa forma, a partir do aprimoramento do Modelo de Vieira et al. (2013) proposto no presente artigo, estabelecida uma referncia til tanto para o desenvolvimento de aes especficas de melhoria nos portos quanto para a concepo de um processo mais amplo e estruturado de reforma porturia. Referncias 32p9Alderton, P. M. (1999); “Port Management and Operations”; Lloyds of London Press, London. Arbage, A. P. 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